O MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA E SUAS APLICAÇÕES PARA BIOMATERIAIS

Melissa Braga de Carvalho (1)

Dayane Ferreira Resende (2)

Vitória Netto de Albuquerque (2)

Vinicius de Paiva Gonçalves (3

Elton Gonçalves Zenóbio (3)

Fernando Antônio Mauad de Abreu (3)

1)Discente do Curso de graduação em Odontologia – PUC Minas

2) Discentes do curso de Mestrado Acadêmico em Clínicas odontológicas – PPGO PUC Minas

3) Docentes do PPGO PUC Minas

O microscópio eletrônico de varredura (MEV), do inglês Scanning Electron Microscopes (SEM), é um tipo de microscópio eletrônico capaz de produzir imagens de alta resolução, de aparência tridimensional, da estrutura superficial de uma amostra, em aumentos muito superior ao da microscopia ótica. Nesse sentido além da escala micrométrica, a microscopia eletrônica de varredura pode atingir a escala nanométrica, próximo de 1nm. Além de avaliar os aspectos topográficos, essa técnica possibilita verificar a composição química e sua distribuição espacial, sobre essa superfície analisada. A imagem é formada por meio da varredura de sua superfície por um feixe de elétrons, o qual emite elétrons secundários (interação de um feixe primário com a superfície de interesse) e a imagem final produzida é projetada em uma tela de computador, para observação e seleção da imagem a ser analisada (FIGURA 1).  

Em odontologia, o MEV é amplamente utilizado na análise de superfícies de diversas estruturas, biológicas e não biológicas, como por exemplo: o biofilme bacteriano, biomateriais e materiais odontológicos, instrumentais e superfícies dentárias. Para a análise de biomateriais, trabalha-se na ordem de micrometros, com aumentos próximos de até 10.000x.  (FIGURA 2).

Amostras biológicas, como os biomateriais utilizados em enxertos, precisam ser preparadas para análise pelo MEV. O funcionamento do equipamento está relacionado à presença de um filamento de Tungstênio que gera um feixe de elétrons, guiado por um sistema de bobinas de deflexão, realizando assim, uma varredura da superfície da amostra, ponto a ponto. Desta forma, essa superfície a ser analisada exige ser uma condutora de elétrons. Em amostras que não são condutoras de elétrons, é necessário fazer um recobrimento (20-30 nm de espessura) com metal, de preferência ouro, visando prover ou aumentar a condutividade da superfície da amostra. Este procedimento é denominado metalização. Para a metalização, as amostras são montadas em suportes próprios, conhecidos como stubs, fixadas por fitas de carbono, em seguida são inseridas em um equipamento conhecido como metalizador, onde serão recobertas por uma fina camada de ouro (FIGURA 3).

Após o processo de metalização, as amostras são colocadas dentro do equipamento e, em seguida é acionado o vácuo, com a finalidade de evitar colisão dos feixes de elétrons com moléculas do ar. (FIGURA 4). Então é liberado um feixe de elétrons que incide sobre a amostra, excitando os elétrons externos dos átomos superficiais, mudando seus níveis energéticos. Ao retornarem para sua posição inicial, os elétrons liberam a energia adquirida que é emitida em comprimento de onda no espectro de raios-x. Um detector instalado na câmara de vácuo do MEV mede a energia associada a esse elétron e reflete uma imagem na tela, e a partir desta imagem são feitas as análises necessárias.

Com as imagens geradas pelo MEV, outras duas ferramentas podem ser aplicadas para complementar a análise das amostras, a Espectroscopia por Energia Dispersiva, do inglês Energy-dispersive spectroscopy (EDS) ou Energy-dispersive X-ray spectroscopy (EDX). Essa ferramenta permite caracterizar a química microscópica da superfície da amostra, identificando quais elementos químicos a constituem. Uma outra análise complementar é o MAPA, em que é feito o mapeamento da distribuição superficial dos elementos químicos identificados pelo EDS (FIGURA 5).

REFERÊNCIAS:

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De Castro O, Audinot JN, Hoang HQ, Coulbary C, Bouton O, Barrahma R, Ost A, Stoffels C, Jiao C, Dutka M, Geryk M, Wirtz T. Magnetic Sector Secondary Ion Mass Spectrometry on FIB-SEM Instruments for Nanoscale Chemical Imaging. Anal Chem. 2022 Aug 2;94(30):10754-10763. doi: 10.1021/acs.analchem.2c01410. Epub 2022 Jul 21. PMID: 35862487; PMCID: PMC9352148.

Gholinia A, Curd ME, Bousser E, Taylor K, Hosman T, Coyle S, Shearer MH, Hunt J, Withers PJ. Coupled Broad Ion Beam-Scanning Electron Microscopy (BIB-SEM) for polishing and three dimensional (3D) serial section tomography (SST). Ultramicroscopy. 2020 Jul;214:112989. doi: 10.1016/j.ultramic.2020.112989. Epub 2020 Apr 24. PMID: 32416435.

Goggin P, Ho EML, Gnaegi H, Searle S, Oreffo ROC, Schneider P. Development of protocols for the first serial block-face scanning electron microscopy (SBF SEM) studies of bone tissue. Bone. 2020 Feb;131:115107. doi: 10.1016/j.bone.2019.115107. Epub 2019 Oct 24. PMID: 31669251; PMCID: PMC6961117.

Iwasaki H, Ichinose S, Tajika Y, Murakami T. Recent technological advances in correlative light and electron microscopy for the comprehensive analysis of neural circuits. Front Neuroanat. 2022 Nov 30;16:1061078. doi: 10.3389/fnana.2022.1061078. PMID: 36530521; PMCID: PMC9748091.

Koga D, Kusumi S, Shibata M, Watanabe T. Applications of Scanning Electron Microscopy Using Secondary and Backscattered Electron Signals in Neural Structure. Front Neuroanat. 2021 Dec 2;15:759804. doi: 10.3389/fnana.2021.759804. PMID: 34955763; PMCID: PMC8693767.

Lewczuk B, Szyryńska N. Field-Emission Scanning Electron Microscope as a Tool for Large-Area and Large-Volume Ultrastructural Studies. Animals (Basel). 2021 Nov 27;11(12):3390. doi: 10.3390/ani11123390. PMID: 34944167; PMCID: PMC8698110.

O USO DA REGENERAÇÃO ÓSSEA GUIADA NO TRATAMENTO DE DEFEITOS INFRA-ÓSSEOS DECORRENTES DA PERI-IMPLANTITE

Aline Olívia Ribeiro (1)

Vitória Netto de Albuquerque (2)

Dayane Ferreira Resende (2)

Felipe Martins Vono (1)

Gianfilippo Machado Cornacchia (3)

Elton Gonçalves Zenóbio (4)

Vânia Eloisa de Araújo Silva (4)

1)Discente do curso de Mestrado profissional em implantodontia – PPGO PUC Minas

2) Discentes do curso de Mestrado Acadêmico em Clínicas odontológicas – PPGO PUC Minas

3) Discentes do curso de Doutorado – PPGO PUC Minas

4) Docente do PPGO PUC Minas

A peri-implantite, uma condição patológica associada ao biofilme peri-implantar, é caracterizada por inflamação na mucosa peri-implantar e perda progressiva de osso de suporte. O acúmulo do biofilme bacteriano pode causar inflamação nos tecidos ao redor do implante, resultando em mucosite peri-implantar (inflamação nos tecidos moles) e, peri-implantite (inflamação e reabsorção do tecido ósseo peri-implantar), podendo culminar na perda do implante. O diagnóstico baseia-se em características clínicas e radiográficas (FIGURA 1).

Tanto a mucosite quanto a peri-implantite são altamente prevalentes de acordo com o Workshop Mundial da AAP-EFP 2017 publicado em 2018 com ênfase na classificação das doenças e condições periodontais (HERRERA et al. 2023). Recentemente, uma diretriz de Prática Clínica foi publicada em 2023 pela Federação Europeia de Periodontologia, enfatizando que a peri-implantite é uma condição irreversível. Portanto, mesmo após uma terapia anti-infeciosa bem-sucedida, um diagnóstico de peri-implantite estável deve ser atribuído ao implante específico. Além disso, os resultados do tratamento dependem de diversos fatores, incluindo características macro e microestruturais dos implantes e protéticas, fatores do paciente, fatores locais, gravidade da doença e morfologia do defeito ósseo. De acordo com a diretriz da AAP-EFP (2023), no manejo cirúrgico de defeitos ósseos peri-implantares, o retalho de acesso com ou sem procedimentos reconstrutivos pode ser considerado, pois nenhuma evidência robusta demonstrou a superioridade de uma técnica cirúrgica específica (HERRERA et al. 2023).

Dessa forma o diagnóstico e o tratamento da peri-implantite é complexo e controverso na literatura. Enquanto alguns autores como Karlsson et al., (2022) relataram que o tratamento cirúrgico sem a utilização de enxertos é eficaz, outros como Sinjab et al., (2018) enfatizam a necessidade de se realizar técnicas de regeneração óssea guiada (ROG) nessas situações.

Descrita primeiramente por Dahlin et al. (1990) a ROG mostrou ser um sucesso em uma variedade de experimentos com diferentes biomateriais e membranas. Autores como Aghazadeh, Persson e Renvert (2020) mostraram em seu estudo que a configuração do defeito ósseo tem relação importante com os resultados obtidos, defeitos de 3 ou 4 paredes, com profundidade de no mínimo 3mm, apresentaram maiores taxas de neoformação óssea, quando técnicas de ROG foram realizadas. Sendo este o tratamento mais eficiente para os defeitos infra-ósseos. Nos defeitos supra ósseos (horizontais), a literatura aponta mais efetividade do tratamento por meio da implantoplastia, apontada como uma estratégia promissora para manutenção e prevenção da perda óssea peri-implantar.

No que diz respeito ao protocolo de ROG, Tomasi et al. (2019) enfatizaram que o osso xenógeno de origem bovina é o biomaterial de enxertia mais utilizado. No entanto, existem preocupações relacionadas aos enxertos xenógenos, como questões éticas e o risco de transmissão de príons, conforme Zenóbio et al. (2023) mencionam. Outros estudos, como o de Roos et al. (2014), descreveram bons resultados em cirurgia regenerativa com um substituto ósseo natural de fosfato de cálcio, associada a uma membrana.

Procedimentos regenerativos têm-se mostrado efetivos e com resultados previsíveis a longo prazo para a manutenção da saúde peri-implantar. Entretanto, os estudos mostraram que não há um preenchimento ósseo total do defeito e não há resolução completa da doença Peri-implantar com a ROG (AGHAZADEH, RUTGER PERSSON, RENVERT, 2012; ISLER et al., 2018; SCHWARZ et al., 2009; SCHWARZ et al., 2012; RENVERT et al., 2021).

Figura 1: Sequência de Diagnóstico da peri-implantite

 Fonte: Adaptado do proposto por Herrera et al. (2023).

* É necessário a existência de dados de exames anteriores para verificar a ausência ou presença de aumento da profundidade de sondagem

** Em relação à porção mais coronal do implante ou na interface rugosa-lisa em implantes de nível de tecido.

Referências:

Aghazadeh A, Rutger Persson G, Renvert S. A single centre randomized controlled clinical trial on the adjunct treatment of intra‐bony defects with autogenous bone or a xenograft: results after 12 months. J Clin Periodontol. 2012; 39: 666-73.

Caton JG, Armitage G, Berglundh T, Chapple ILC, Jepsen S, Kornman KS, et al. A New Classification Scheme for Periodontal and Peri-Implant Diseases and Conditions – Introduction and Key Changes From the 1999 Classification. J Periodontol. 2018; 89:

DAHLIN, C. et al. Healing of maxillary and mandibular bone defects using a membrane technique: An experimental study in monkeys. Scandinavian Journal of Plastic and Reconstructive Surgery and Hand Surgery, v. 24, n. 1, p. 13-19, 1990.

Herrera D, Berglundh T, Schwarz F, Chapple I, Jepsen S, Sculean A, Kebschull M, Papapanou PN, Tonetti MS, Sanz M; EFP workshop participants and methodological consultant. Prevention and treatment of peri-implant diseases-The EFP S3 level clinical practice guideline. J Clin Periodontol. 2023 Jun;50 Suppl 26:4-76.

Isler SC, Soysal F, Ceyhanlı T, Bakırarar B, Unsal B. Regenerative surgical treatment of peri‐implantitis using either a collagen membrane or concentrated growth factor: a 12‐ month randomized clinical trial. Clin Implant Dent Relat Res. 2018; 20: 703-712

Karlsson K, Trullenque-Eriksson A, Tomasi C, Derks J. Efficacy of access flap and pocket elimination procedures in the management of peri-implantitis: A systematic review and meta-analysis. J Clin Periodontol. 2023 Jun;50 Suppl 26:244-284. doi: 10.1111/jcpe.13732. Epub 2022 Nov 3. PMID: 36217689.

Monje A, Pons R, Sculean A, Nart J, Wang HL. Defect angle as prognostic indicator in the reconstructive therapy of peri-implantitis. Clin Implant Dent Relat Res. 2023 Jul 5. doi: 10.1111/cid.13244. Epub ahead of print. PMID: 37405662.

Renvert S, Giovannoli JL, Roos-Jansåker AM, Rinke S.Surgical treatment of peri‐ implantitis with or without a deproteinized bovine bone mineral and a native bilayer collagen membrane: A randomized clinical trial. J Clin Periodontol. 2021; 48: 1312-1321.

ROOS, A. M. et al. Surgical treatment of peri‐implantitis using a bone substitute with or without a resorbable membrane: A 5‐year follow‐up. Journal of Clinical Periodontology, v. 41, n. 11, p. 1108-1114, 2014.

Schwarz F, Bieling K, Latz T, Nuesry E, Becker J. Healing of intrabony peri‐implantitis defects following application of a nanocrystalline hydroxyapatite (OstimTM) or a bovine‐ derived xenograft (Bio‐OssTM) in combination with a collagen membrane (Bio‐GideTM). A case series. J Clin Periodontol. 2006; 33: 491-9.

Schwarz F, Sahm N, Bieling K, Becker J. Surgical regenerative treatment of peri‐ implantitis lesions using a nanocrystalline hydroxyapatite or a natural bone mineral in combination with a collagen membrane: a four‐year clinical follow‐up report. J Clin Periodontol. 2009; 36: 807-14.

Sinjab K, Garaicoa-Pazmino C, Wang HL. Decision making for management of periimplant diseases. Implant Dent. 2018; 27: 276-281.

Tomasi C, Regidor E, Ortiz-Vigón A, Derks J. Efficacy of reconstructive surgical therapy at peri‐implantitis‐related bone defects. A systematic review and meta‐analysis. J Clin Periodontol. 2019; 46: 340-356.

Zenóbio EG, Resende DF, de Albuquerque VN, Mendes PA, de Abreu FAM, Côsso MG. How the use of xenogeneic grafts can impact the relationship with some social groups and blood donor patients. Clin Implant Dent Relat Res. 2023 May 10.

FATORES DE RISCO PARA PROGRESSÃO MALIGNA DE DESORDENS POTENCIALMENTE MALIGNAS DA MUCOSA ORAL

Programa de Pós-graduação em Odontologia da PUC Minas (PPGO PUC Minas) 

Daniel Bastos dos Santos Filho (1)

Adrielly Ferreira Cardozo (2)

Caroline da Silva Feitosa (2)

Giulia Barcelos Rossi de Almeida Bastos Novais (2)

Martinho Campolina Rebello Horta (3)

Giovanna Ribeiro Souto (3)

(1) Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Odontologia (PPGO) da PUC Minas

(2) Alunas do Curso Graduação do Departamento de Odontologia da PUC Minas

(3) Docente do PPGO PUC Minas

O carcinoma de células escamosas é a neoplasia maligna mais comum da cavidade oral e origina-se no epitélio de revestimento da mucosa. Algumas lesões de mucosa oral apresentam um risco estatisticamente maior de transformação maligna e, devido a esse maior potencial de transformação, são denominadas Desordens Potencialmente Malignas (DPM). Apesar das DPMs poderem progredir para o câncer oral, a avaliação individual de risco para os pacientes é complexa. Neste contexto, é importante conhecer os principais fatores de risco e a avaliação de risco de cada estágio de evolução clínica para melhor abordagem dos pacientes (SPEIGHT, KHURRAM & KUJAN, 2018).

Dentre as DPM, podem ser citadas como mais comuns a leucoplasia, a eritroplasia, a queilite actínica e o líquen plano oral (RAMOS-GARCIA et al., 2022).

A leucoplasia se apresenta como uma mancha ou placa branca não removível à raspagem e que deve ser diferenciada clinicamente ou histopatologicamente de outras doenças que se manifestam como manchas ou placas brancas na mucosa. Esta lesão pode apresentar variações na superfície, podendo a ser lisa, verrucosa ou rugosa (Figura 1A). A eritroplasia, por sua vez, refere-se a uma mancha ou placa de coloração predominantemente vermelha, devendo também ser diferenciada clinicamente ou histopatologicamente de outras doenças (Figura 1B). A queilite actínica é uma DPM da semimucosa labial, sendo mais prevalente no lábio inferior devido à maior exposição à radiação solar.  Caracteriza-se por atrofia da semimucosa, endurecimento local e apagamento da linha mucocutânea (limite entre a semimucosa e a pele), podendo apresentar também manchas ou placas brancas, além de áreas erosivas ou ulceradas (Figura 1C). Já o líquen plano oral (Figura 1D) é uma doença mucocutânea de etiologia desconhecida e caráter imunomediado, na qual há uma resposta imune com agressão ao epitélio de revestimento oral.  Esta doença pode se apresentar clinicamente na mucosa oral especialmente nas formas reticular e erosiva (IOCCA et al., 2020). Embora o líquen plano oral esteja incluído no grupo de DPM, alguns autores consideram que ainda não há evidência científica suficiente para classificá-lo como uma lesão com potencial de transformação maligna (SPEIGHT, KHURRAM & KUJAN, 2018).

Figura 1: A) Leucoplasia em gengiva inserida. B) Eritroplasia em região de palato duro/mole. C) Queilite actínica em lábio inferior, com áreas de erosão e placa branca. D) Líquen plano apresentando-se como estrias brancas associadas à áreas de erosão na mucosa jugal.

Apesar da progressão maligna ser o desfecho mais significativo para as DPM, apenas a minoria dos casos evoluem para o câncer. Embora algumas lesões permaneçam sem alterações no tamanho, outras podem aumentar, diminuir ou até desaparecer completamente. Alguns fatores estão associados ao aumento do risco de progressão maligna. Os autores SPEIGHT, KHURRAM & KUJAN, 2018 classificaram estes fatores risco de acordo com a força de associação à progressão maligna.

­Força de associação das características clínicas que aumentam o risco de transformação maligna das DPMs em mucosa oral:

  • Associação Forte: Tamanho da lesão >200mm2, textura não homogênea, cor vermelha ou salpicada, lesões localizadas em língua e soalho bucal;
  • Associação média: sexo feminino, pacientes com mais de 50 anos;
  • Associação fraca: pacientes não fumantes.

Força de associação das características histopatológicas que aumentam o risco de transformação maligna:

  • Associação forte: displasia severa ou classificadas como de alto risco (sistema binário proposto por KUJAN et al. 2006);
  • Associação média: lesões HPV 16+, com aneuploidia do DNA e com muitos genes apresentando perda de heterozigosidade.

A avaliação do risco de transformação maligna das DPMs pode ser muito difícil, tendo em vista que a tomada de decisão de tratamento pelo clínico pode ter várias opções. A avaliação clínica deve considerar três parâmetros: história clínica, exame clínico e biópsia com avaliação histopatológica. São consideradas lesões de alto risco de transformação maligna aquelas que apresentam características clínicas e histopatológicas com maior força de associação e de baixo risco as lesões que apresentam força de associação média ou fraca (SPEIGHT, KHURRAM & KUJAN, 2018).   

REFERÊNCIAS:

SPEIGHT PM, KHURRAM SA, KUJAN O. Oral potentially malignant disorders: risk of progression to malignancy. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol. 2018 Jun;125(6):612-627. doi: 10.1016/j.oooo.2017.12.011

RAMOS-GARCÍA, Pablo; GONZALEZ-MOLES, Miguel Angel; WARNAKULASURIYA, Saman. Significance of p53 overexpression in the prediction of the malignant transformation risk of oral potentially malignant disorders: A systematic review and meta-analysis. Oral Oncology, v. 126, p. 105734, 2022.

IOCCA, Oreste et al. Potentially malignant disorders of the oral cavity and oral dysplasia: a systematic review and meta‐analysis of malignant transformation rate by subtype. Head & neck, v. 42, n. 3, p. 539-555, 2020.

KUJAN O, OLIVER RJ, KHATTAB A, ROBERTS SA, THAKKER N, SLOAN P. Evaluation of a new binary system of grading oral epithelial dysplasia for prediction of malignant transformation. Oral Oncology, 2006 Nov;42(10):987-93. doi: 10.1016/j.oraloncology.2005.12.014.

BIOMATERIAIS PARA ENXERTIA EM SEIO MAXILAR. QUAIS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUIMICAS E ESTRUTURAIS DEVO CONSIDERAR?

Programa de pós-graduação em Odontologia da PUC Minas (PPGO PUC Minas)

Gianfilippo Machado Cornacchia (1)

Polianne Alves Mendes(1)

Vitória Netto de Albuquerque (2)

Dayane Ferreira Resende (2)

Fernando Antônio Mauad de Abreu (2)

Elton Gonçalves Zenóbio(3)

Vânia Eloisa de Araújo Silva(3)

(1) Discente do curso de Doutorado Acadêmico em Clínicas odontológicas PPGO PUC Minas

(2) Discente do curso de Mestrado Acadêmico em Clínicas odontológicas PPGO PUC Minas

(3) Docente do PPGO PUC Minas

Os biomateriais são definidos como uma substância projetada para atuar direcionando as interações com componentes de sistemas vivos, durante o curso de qualquer procedimento terapêutico ou diagnóstico. No campo da saúde, a substituição e/ou o aumento de tecidos biológicos sempre foi um tema de importância, isso fez com que houvesse uma evolução de produtos naturais que perdura por mais de três milênios da história humana, resultando em substâncias complexas transformadas artificialmente e que hoje, para suprir essa demanda, são produzidos de formas diversas a partir de metais, cerâmicas, polímeros e compósitos (DALAPICULA et al., 2006; WILLIAMS, 2008; MARIN, BOSCHETTO e PEZZOTTI, 2020).

Os biomateriais substitutos ósseos podem ser classificados de acordo com sua origem, quanto suas propriedades ou resposta biológica (BAUER; MUSCHLER, 2000). Em relação a origem podem ser chamados de: autógenos quando obtidos do próprio indivíduo; Singênico substitutos obtidos entre indivíduos geneticamente idênticos (gêmeos), homógenos ou aloenxertos obtidos de doadores da mesma espécie; xenógenos ou enxerto heterógenos provenientes de doadores de espécies diferentes, fitogênicos que são biomateriais originários de plantas, em especial algas e enxertos aloplásticos obtidos de forma sintética (BAUER; MUSCHLER, 2000; OLIVER KLEIN e AL-NAWAS, 2011). Em relação as propriedades podem ser classificados como osteocondutores, osteoindutores ou osteogênicos. Já em relação a resposta biológica como bioinertes, biotolerantes ou bioativos (BURG; PARTER; KELLAN, 2000).

Assim essas substâncias integram os tecidos vivos de acordo com suas propriedades físico-químicas. Propriedades físicas que são específicas à área de superfície ou formato (bloco, partícula) e à porosidade (denso, macro ou micro poroso) e às propriedades químicas relacionadas a razão molar cálcio/fosfato, composição química, grau de impureza e substituição iônica na estrutura atômica (BURG; PARTER; KELLAN, 2000; MISCH, 2000).

As características estruturais dos biomateriais substitutos ósseos, utilizados em em odontologia, estão relacionadas desde a organização atômica em escala nanométrica, até́ ao nível da macroestrutura em escala milimétrica (TURRER; FERREIRA, 2008).

No procedimento cirúrgico de elevação da membrana do seio maxilar e enxertia com substitutos ósseos, os biomateriais mais utilizados são os de origem aloplástica e xenógena. Sendo os biomateriais aloplásticos mais utilizados as hidroxiapatitas sintéticas, fosfato tricálcico, bifásicos, biovidros e vitrocerâmicas, obtidos por meio de processamentos específicos em laboratório. Entre os xenógenos estão aqueles obtidos por meio da desproteinização do osso de origem bovina, porcina e equina, por meio de processos termoquímicos, que removem a porção orgânica do biomaterial (SCHOPPER et al., 2005; RODOLFO et al., 2017).

Parte da resposta biológica produzida por um biomaterial é condicionada por suas propriedades físico-químicas e estruturais (TRAJKOVSKI et al., 2018). São elas: porosidade, granulometria, morfologia, cristalinidade e razão cálcio/fosfato para o biomaterial (Figura 1).

Figura 1: Características físico-químicas e estruturais dos biomateriais aloplásticos e xenógenos de origem animal (OONISHI et al., 1999; KARAGEORGIOU e KAPLAN, 2005; YANG, DENNISON e ONG, 2005; CONZ et al., 2010; GUASTALDI, APARECIDA, 2010; Figueiredo et al., 2013; TRAJKOVSKI et al., 2018)

Diante dos aspectos que envolvem o sucesso de uma cirurgia de levantamento do seio maxilar utilizando biomateriais xenogênicos ou aloplásticos, as características físico-químicas e estruturais são fatores determinantes no resultado da técnica. O atual conhecimento científico disponível sugere que as características mais importantes desses biomateriais são uma alta porosidade das partículas, um tamanho médio de 2,0 mm, formas poligonais, uma maior razão Ca/P no biomaterial e uma alta cristalinidade (FIGUEIREDO et al., 2013; TRAJKOVSKI et al., 2018).

Figura 2: (A) Acomodação de biomaterial de origem aloplástica durante procedimento de elevação de seio maxilar. (B) Biomaterial completamente inserido na ferida cirúrgica durante o procedimento. Fonte: Clínica Cirúrgica do Mestrado Profissional em Implantodontia PUC Minas
Figura 3: Biomaterial de origem xenógena acomodado durante procedimento de elevação de seio maxilar. Fonte: Clínica Cirúrgica do Mestrado Profissional em Implantodontia PUC Minas.

REFERÊNCIAS

Bauer, T.W., & Muschler, G.F. (2000). Bone graft materials: an overview of the basic science. Clinical Orthopaedics and Related Research, 371, 10-27.

Burg, K.J., Porter, S., & Kellam, J.F. (2000). Biomaterial developments for bone tissue engineering. Biomaterials, 21, 2347-2359.

Conz, M.B., Campos, C.N., Serrão, S.D., Soares, G.A., & Vidigal Júnior, G.M. (2010). Caracterização físico-química de doze biomateriais utilizados como enxertos ósseos na Implantodontia. ImplantNews, 7, 541-546.

Cornacchia, G. M. Eficácia das características físico-químicas e estruturais dos biomateriais na formação óssea após elevação de seio maxilar: revisão sistemática da literatura. 2021. 65 f. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em Odontologia. Disponível em: <http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Odontologia_GianfilippoMachadoCornacchia_19288_Textocompleto.pdf.&gt; Acesso em: 3 nov. 2021.

Dalapicula, S.S., Vidigal Junior, G.M., Conz, M.B., & Cardoso, E.S. (2006). Características físico-químicas dos biomateriais utilizados em enxertias ósseas. Uma revisão crítica. ImplantNews, 3, 487-491.

Figueiredo, A S. Estudo in Vivo De Caracterização Da Reacção Inflamatória pós Implantação De Biomateriais à Base De Hidroxiapatite Para Aplicação Em Medicina Dentária. 2013. Tese de Doutorado. Universidade de Coimbra.

Guastaldi, A.C., & Aparecida, A.H. (2010). Fosfatos de cálcio de interesse biológico: importância como biomateriais, propriedades e métodos de obtenção de recobrimentos. Química Nova, 33, 1352-1358. doi: 10.21577/0100- 4042.20170716

Karageorgiou, V., & Kaplan, D. (2005). Porosity of 3D biomaterial scaffolds and osteogenesis. Biomaterials, 26, 5474-5491. doi: 10.1016/j.biomaterials.2005.02.002.

Marin E, Boschetto F, Pezzotti G. (2020). Biomaterials and biocompatibility: An historical overview. J Biomed Mater Res A. 1;108(8):1617-1633.

Misch, C.E. (2000). Biomateriais utilizados em implantes dentários. In: Implantes dentários contemporâneos (2a ed.). São Paulo: Editora Santos, p. 271-302.

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Oonishi, H. L. L. H. J. W. F. S. E. T. S. K. H. I., Hench, L. L., Wilson, J., Sugihara, F., Tsuji, E., Kushitani, S., & Iwaki, H. (1999). Comparative bone growth behavior in granules of bioceramic materials of various sizes. Journal of Biomedical Materials Research: An Official Journal of The Society for Biomaterials, The Japanese Society for Biomaterials, and the Australian Society for Biomaterials, v. 44, n. 1, p. 31-43, 1999.

Rodolfo, L. M., Machado, L. G., Betoni-Júnior, W., Faeda, R. S., Queiroz, T. P., & de Souza Faloni, A. P. (2017). Substitutos ósseos alógenos e xenógenos comparados ao enxerto autógeno: reações biológicas. Revista Brasileira Multidisciplinar-ReBraM20(1), 94-105.

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Turrer, C.L., & Ferreira, F.P.M. (2008). Biomateriais em cirurgia craniomaxilofacial: princípios básicos e aplicações: revisão de literatura.Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 23, 234-239.

Williams, D.F. (2008). On the mechanisms of biocompatibility. Biomaterials,29, 2941-2953. doi: 10.1016/j.biomaterials.2008.04.023.

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O IPR E SEU IMPACTO NA ESTÉTICA DO SORRISO

Programa de pós-graduação em Odontologia da PUC Minas (PPGO PUC Minas)  

Víctor Lopes Soares (1)

Igor Camargos Duarte (2)

Izabella Lucas de Abreu Lima (3) 

(1) Aluno do curso de Mestrado Profissional em Ortodontia – PPGO PUC Minas 

(2) Aluna do curso de Graduação em Odontologia – PUC Minas 

(3) Docente do PPGO PUC Minas 

 O IPR (Interproximal Removal), é uma técnica amplamente utilizada na ortodontia, podendo ser indicada em tratamentos tanto com aparelhos fixos, quanto com alinhadores dentários. Esse procedimento consiste na redução das superfícies proximais dos dentes, por meio de brocas ou lixas, com o objetivo de formar pequenos diastemas, criando espaço para movimentação dentária. Esse recurso é muito utilizado para corrigir apinhamentos leves, principalmente na região de incisivos inferiores (CHUDASAMA, 2007).

Para a realização dessa técnica deve-se analisar a severidade do apinhamento com base na discrepância negativa de espaço no arco e diagnóstico clínico intraoral, a fim de determinar a quantidade necessária de desgaste para a correção. A utilização de radiografias para a avaliação da espessura de esmalte presente é também um fator preponderante para determinar a quantidade de esmalte que poderá ser removido sem causar danos ao paciente (LIVAS, 2013).

Antes de utilizar a técnica recomenda-se a finalização das fases de alinhamento e nivelamento dentário com o objetivo de corrigir as rotações e mal posicionamentos a fim de estabelecer pontos de contato adequados. Para se ter uma melhor visualização do campo durante o procedimento e um acesso mecânico adequado, são indicados o uso de molas helicoidais, separadores ou cunhas de madeira. A proteção dos tecidos interdentais durante o procedimento pode ser feita com o uso de um fio chamado indicator wire que por conta da sua higidez protege o tecido mole de tira (colocando entre a broca e o tecido evita-se possíveis lacerações). Essa proteção é muito importante para os pacientes mais jovens, pois as regiões interdentais são totalmente preenchidas pelos tecidos (CHUDASAMA, 2007).

A redução do esmalte mésio-distal pode ser realizada por métodos manuais ou mecânicos. Não se recomenda a utilização de tiras abrasivas manuais antes de se realizar o alinhamento dos dentes por ser um processo demorado, pouco aplicável aos dentes posteriores e por produzir sulcos residuais irreversíveis nas superfícies tratadas. Atualmente, as tiras manuais são empregadas apenas em casos menores de remoção de esmalte (0,2 e 0,3 mm) e como procedimento inicial ou final de acabamento para manter a anatomia dentária (LIVAS, 2013). Outras alternativas para a redução são brocas com ponta diamantada, discos diamantados ou discos de segmento adaptados a um contra ângulo com movimento de oscilação. O ortodontista deve ser conservador ao iniciar os procedimentos de remoção, sendo a quantidade de esmalte máxima que poderá ser removida é de aproximadamente 1mm (0,5 mm por superfície proximal), variando de acordo com a anatomia e espessura individual do dente e paciente (CHUDASAMA, 2007).

Com o objetivo de realizar o polimento das regiões interproximais, é recomendável utilizar uma ponta diamantada triangular em forma de cone, juntamente com discos de areia fina e tiras de lixa diamantada. É importante arredondar as regiões interproximais para garantir uma morfologia adequada e evitar pontos de contato pontiagudos. Além disso, as paredes proximais devem ser contornadas para apresentar uma textura adequada e garantir que os dentes se movam de forma suave e natural durante o tratamento. O polimento deve ser realizado com cuidado para evitar o excesso de remoção de esmalte e danificar a saúde dental (LIVAS, 2013).

Para obter um melhor controle e evitar desgaste em excesso, é recomendável que as reduções interproximais sejam realizadas de forma sequencial, trabalhando dos dentes posteriores para os anteriores, nos segmentos vestibulares e movendo os dentes distalmente. Em vez de realizar todas as reduções em uma única consulta, o mais recomendável é consolidar o espaço e repetir a sequência de reduções nas visitas subsequentes até que haja espaço suficiente para resolver o problema. Dessa forma, é possível controlar a quantidade de espaço criado a cada visita e minimizar o risco de remover excesso de esmalte interdental (CHUDASAMA, 2007).

            O IPR é recomendado em várias situações em que é necessário criar espaço entre os dentes. As principais indicações incluem a correção de apinhamento dental, discrepâncias de tamanho que possam afetar a aparência estética do sorriso, a prevenção de recidivas após tratamento ortodôntico, eliminação do triangulo negro (black space[UdMO1] ) e redução do perímetro do arco. Com o IPR, é possível alcançar resultados estéticos e funcionais satisfatórios, contribuindo para a saúde bucal e o bem-estar dos pacientes (LIVAS, 2013).

            Existem algumas situações em que o IPR é contraindicado. Nos casos de pacientes que apresentem hipersensibilidade dentária ou dentes muito pequenos sem suas superfícies dentárias integras e espessas o suficiente, o desgaste não pode ser realizado, com o risco prejudicar a harmonia entre os dentes, sua estética e estrutura. Além disso, o IPR pode afetar a função dos dentes, como a mastigação e a fala. Também é importante destacar que a técnica de redução interproximal pode não ser indicada para pacientes que apresentam um alto grau de apinhamento dentário, uma vez que o desgaste necessário para corrigir o problema seria excessivo e poderia comprometer a estrutura dos dentes. É importante ressaltar, no entanto, que o IPR pode ser utilizada como uma ferramenta ou aliado para auxiliar na solução desses casos mais complexos, porém, é preciso que seja realizada com critério e planejamento adequados para minimizar eventuais riscos de danos aos dentes e garantir o sucesso do tratamento (LIVAS, 2013).

De acordo com a literatura disponível, a técnica de redução interproximal do esmalte é considerada uma modalidade terapêutica eficaz na conduta ortodontôntica. Quando realizada adequadamente e em circunstâncias específicas, essa técnica pode ajudar a alcançar os objetivos do tratamento sem comprometer a integridade dos tecidos dentários e periodontais. Além disso, ortodontista deve avaliar cada caso individualmente e considerar as necessidades específicas do paciente antes de optar pela técnica de redução interproximal do esmalte. Dessa forma, é possível utilizar o IPR como uma ferramenta valiosa no tratamento ortodôntico, desde que seja realizada com cautela e dentro de um contexto clínico bem estabelecido.   

REFERÊNCIAS 

LIVAS, Christos; JONGSMA, Albert Cornelis; REN, Yijin. Enamel reduction techniques in orthodontics: a literature review. The open dentistry journal, v. 7, p. 146, 2013. 

CHUDASAMA, Dipak; SHERIDAN, John J. Guidelines for contemporary air-rotor stripping. Journal of Clinical Orthodontics, v. 41, n. 6, p. 315, 2007. 

ZHONG, Mei et al. Clinical evaluation of a new technique for interdental enamel reduction. Journal of Orofacial Orthopedics/Fortschritte der Kieferorthopädie, v. 61, p. 432-439, 2000. 

UTILIZAÇÃO DO MÉTODO DE TANAKA E JOHNSTON PARA A PREDIÇÃO DE TAMANHO DE DENTES PERMANENTES NÃO ERUPCIONADOS.

Programa de Pós-graduação em Odontologia da PUC Minas

(PPGO PUC Minas)

Clara Sette Câmara Calixto1

Júlia Franzot Castilho1

Yasmin Almeida Marchesotti Lara2

Flávio Ricardo Manzi3

Diogo de Azevedo Miranda3

Izabella Lucas de Abreu Lima3

¹ Aluna do curso de Mestrado Profissional em Ortodontia – PPGO PUC Minas

2Aluna do curso de Graduação em Odontologia – PUC Minas

³Docente do PPGO PUC Minas

Uma importante ferramenta utilizada para determinação de diagnóstico e para se alcançar o planejamento ideal é a análise de modelos (HAMBIRE, C.U., et al, 2015). Ela pode auxiliar na prevenção e intervenções de problemas ou fornecer condições mais favoráveis para futuras correções. Os modelos de estudo, além de fornecerem informações como más posições dentárias, apinhamentos, relação molar, classificação de Angle, formato das arcadas, diastemas, sobressaliência, sobremordida e assimetrias, possibilita a execução de análises detalhadas da oclusão (NUVVULA, S., et al., 2016).

Existem diversas possibilidades de se utilizar modelos associados a distintas análises e fases do desenvolvimento da dentadura. As análises de dentadura mista, são obtidas a partir das distâncias mésio-distais de grupos de dentes e têm como principal objetivo permitir a avaliação da diferença entre a largura mésio-distal dos caninos e molares decíduos, e os caninos permanentes e pré-molares (NUVVULA, S., et al., 2016). Sendo assim, com base na diferença entre o tamanho dos dentes decíduos e permanentes é possível estimar se haverá ou não espaço para a correta acomodação dos dentes permanentes na região mesial ao primeiro molar permanente. Essas análises possibilitam a realização de um bom planejamento e a execução de uma abordagem preventiva e/ou interceptativa, conforme necessário (NUVVULA, S., et al., 2016).

Essa análise é um critério importante para determinar se o plano de tratamento ortodôntico envolverá extrações, manutenção de espaço, ganho de espaço ou apenas o monitoramento da oclusão e acompanhamento periódico do paciente (HAMBIRE, C.U., et al, 2015).

Entre os métodos aplicados na análise de espaço, a equação de Tanaka e Johnston é amplamente utilizada, por demonstrar uma boa confiabilidade, simplicidade e rápida utilização (HAMBIRE, C.U., et al, 2015). É realizada a partir da correlação dos diâmetros mésio-distais das coroas dos incisivos inferiores permanentes irrompidos como preditor para estimar o tamanho dos caninos e pré-molares não irrompidos, tanto no arco inferior quanto no arco superior (THIMMEGOWDA, U., et al., 2017).

O estudo é feito a partir da obtenção de um modelo de gesso de cada indivíduo e em seguida, são realizadas medidas da mesial do primeiro molar permanente à mesial do canino decíduo em ambas hemi-arcadas do arco inferior e do arco superior, e do diâmetro mésio-distal dos incisivos inferiores permanentes (THIMMEGOWDA, U., et al., 2017). Essas medidas são obtidas com o auxílio de um compasso de ponta seca ou paquímetro: posiciona-se as pontas do instrumento na base óssea do modelo e verifica-se o tamanho do espaço com o auxílio de uma régua (WHITE, L. M., et al., 2021) (Figura 1).

Figura 1: Compasso de ponta seca.

DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE TANAKA E JOHNSTON

Essa análise é dividida em 3 momentos:1. Cálculo do espaço presente (EP): Espaço que está disponível para a irrupção dos dentes. É o perímetro ósseo medido da mesial do canino decíduo à mesial do 1º molar permanente de ambas hemi-arcadas; e da mesial do canino decíduo à mesial de canino decíduo homólogo. Esta medida dos dentes anteriores deve ser feita em partes para respeitar a curvatura presente na base óssea (Figura 2 e 4).

2. Cálculo do espaço requerido (ER): É o espaço necessário para a irrupção dos dentes. É a soma do diâmetro mésio distal dos 4 incisivos inferiores permanentes (Figura 3 e 5).

3. Cálculo da discrepância de modelo (DM): Permite precisão do espaço no arco para o correto alinhamento dos dentes. É o resultado da subtração entre espaço requerido e o espaço presente, portando DM = EP-ER.

Fórmula da análise de Tanaka e Johnston:

ER= ∑ 4 INCISIVOS ↓ ÷ 2 + 10,5

(É a soma dos 4 incisivos inferiores divido por 2, mais 10,5 – para mandíbula).

ER= 24 ÷ 2 + 10,5 = 22,5

Com base na análise e no resultado da discrepância de modelo, que foi igual a zero, conclui-se que no arco dental inferior, tem-se o espaço exato para a irrupção de caninos e pré-molares permanentes.

A detecção indevida da falta de espaço pode causar uma série de consequências, como decisões terapêuticas incorretas e irreversíveis (THIMMEGOWDA, U., et al., 2017). Dessa forma, o método de Tanaka e Johnston têm se mostrado eficaz para predizer a soma dos diâmetros mésio-distais de caninos e pré-molares e de acordo com a literatura, sua aplicabilidade na análise de modelos da dentição mista trouxe resultados altamente significativos (WHITE, L. M., et al., 2021).

REFERÊNCIAS

HAMBIRE, C.U., et al. Evaluation of validity of Tanaka-Johnston analysis in Mumbai school children. Contemporary clinical dentistry vol. 6,3 (2015): 337-40.

NUVVULA, S., et al. Primary Dentition Analysis: Exploring a Hidden Approach. International journal of clinical pediatric dentistry vol. 9,1 (2016): 1-4.

THIMMEGOWDA, U., et al. Applicability of Tanaka Jhonston Method and Prediction of Mesiodistal Width of Canines and Premolars in Children. Journal of clinical and diagnostic research: JCDR vol. 11,6 (2017): ZC16-ZC19.

WHITE, L. M., et al. Accuracy of Model Estimation versus Tanaka and Johnston Arch Length Analysis. The Journal of clinical pediatric dentistry vol. 45,1 (2021): 54-57.

SUPERPOSIÇÃO CEFALOMÉTRICA E SUA IMPORTÂNCIA PARA A ORTODONTIA

Programa de Pós-graduação em Odontologia da PUC Minas (PPGO PUC Minas) 

Clara Sette Câmara Calixto¹

Wendel Yann Costa Alves²

Diogo de Azevedo Miranda³

Flávio Ricardo Manzi³

Izabella Lucas de Abreu Lima³

¹Aluna do curso de Mestrado Profissional em Ortodontia – PPGO PUC Minas

2Aluno do Curso Graduação do Departamento de Odontologia da PUC Minas

3Docente do PPGO PUC Minas

A superposição cefalométrica é uma ferramenta de comparação útil para os ortodontistas observarem as mudanças ocorridas em um paciente ao longo do tempo. É considerado um método eficiente para determinar alterações provenientes de crescimento e desenvolvimento e possibilitar análise de modificações resultantes do tratamento ortodôntico (JACOBSON, A.; SADOWSKY, P. L., 1995).

Fonte: GIUDICE, A,L; et al. The Evolution of the Cephalometric Superimposition Techniques from the Beginning to the Digital Era: A Brief Descriptive Review. International Journal of Dentistry. 2021, vol. 2021, 7 pages, Article ID 6677133

A partir de telerradiografias laterais de um mesmo indivíduo, realizadas em momentos distintos, são obtidos os traçados sequenciais, e estes traçados são comumente superpostos tendo como referência a base do crânio, maxila e mandíbula (JACOBSON, A.; SADOWSKY, P. L., 1995). Essas estruturas são consideradas estáveis e de contorno anatômico bem definido e delimitado, possibilitando a realização de superposições totais ou parciais, conforme o objetivo da análise do profissional (ZAMPIERI, R. F; et al., 2005).

Ao realizar uma superposição total, é possível avaliar os movimentos dentários em ambas as bases ósseas, a direção e quantidade de crescimento do complexo craniofacial e as mudanças decorrentes do tratamento ortodôntico (ZAMPIERI, R. F; et al., 2005). As superposições parciais irão nos permitir a análise da movimentação dentária e da direção de crescimento exclusivos da maxila ou da mandíbula, dependendo da referência estável utilizada pelo profissional no momento da superposição (JACOBSON, A.; SADOWSKY, P. L., 1995).

Dentre diversas regiões aptas a serem superpostas, algumas são de fácil localização radiográfica e por isso são frequentemente utilizadas pelos profissionais (JACOBSON, A.; SADOWSKY, P. L., 1995). Na base do crânio, a superposição com registro no ponto Sela (S) e a linha que passa pelos pontos Sela e Násio (S-Na) é a mais utilizada (AMERICAN BOARD OF ORTHODONTICS. ABO, 2022) (FIGURA 1).

FIGURA 1. Linha S-Na 

Na maxila, a estrutura comumente utilizada é o plano palatino. Este plano tem início na espinha nasal anterior (ENA) e segue até a espinha nasal posterior (ENP) com ponto registrado em ENA (AMERICAN BOARD OF ORTHODONTICS. ABO, 2022) (FIGURA 2).

FIGURA 2. Plano palatino 

Na mandíbula, as estruturas mais utilizadas para superposição são a borda inferior da mandíbula, parede anterior da sínfise mandibular, contorno interior da cortical da sínfise mandibular em seu ponto mais inferior, contorno do canal mandibular e contorno inferior do germe dentário do terceiro molar inferior antes do desenvolvimento da raiz (AMERICAN BOARD OF ORTHODONTICS. ABO, 2022) (FIGURA 3).

FIGURA 3. Superposição mandibular

É importante ressaltar que o crescimento mandibular ocorre nos côndilos, portanto nunca devemos realizar a superposição radiográfica nesta região (AMERICAN BOARD OF ORTHODONTICS. ABO, 2022).

Existem algumas limitações para as superposições, dentre elas, alterações tridimensionais que eventualmente serão mensuradas bidimensionalmente, erros no posicionamento da cabeça do paciente no momento da aquisição da telerradiografia lateral, radiografias sequenciais não padronizadas e dificuldade de localização de pontos/estruturas anatômicas no exame radiográfico (ZAMPIERI, R. F; et al., 2005). No futuro, provavelmente haverá a implementação de tecnologia tridimensional computadorizada como recurso para estudos nesta área (GIUDICE, A,L; et al.,2021).

Embora nenhuma das posições superpostas do traçado cefalométrico seja completamente precisa, elas permitem uma avaliação geral de mudança decorrente do crescimento e/ou tratamento (JACOBSON, A.; SADOWSKY, P. L., 1995).  A confiabilidade e a reprodutibilidade são aspectos importantes a serem considerados durante a escolha da superposição: estruturas estáveis e de fácil identificação se tornam confiáveis. (GIUDICE, A,L; et al.,2021).

REFERÊNCIAS 

  1. AMERICAN BOARD OF ORTHODONTICS. ABO: American Board of Orthodontics, 2022. Página inicial. Disponível em: <https://www.americanboardortho.com&gt;. Acesso em: 29 de set. de 2022
  2. GIUDICE, A,L; et al. The Evolution of the Cephalometric Superimposition Techniques from the Beginning to the Digital Era: A Brief Descriptive Review. International Journal of Dentistry. 2021, vol. 2021, 7 pages, Article ID 6677133.
  3. JACOBSON, A.; SADOWSKY, P. L. Superimposition of cephalometric radiographs. In: JACOBSON, A. Radiographic cephalometry: from basics to videoimaging. Chicago: Quintessence, 1995. cap. 12, p. 165-173. 
  4. ZAMPIERI, R. F; et al. Estudo comparativo entre técnicas de superposições cefalométricas totais. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial. 2005, v. 10, n. 6, pp. 141-156. 

BENEFÍCIO ANTECIPADO NA ORTODONTIA

Programa de pós-graduação em Odontologia da PUC Minas (PPGO PUC Minas) 

Víctor Lopes Soares (1)

Ana Luiza de Oliveira Silva (2)

Diogo de Azevedo Miranda (3)

Flávio Ricardo Manzi (3)

Izabella Lucas de Abreu Lima (3)

(1) Aluno do curso de Mestrado Profissional em Ortodontia – PPGO PUC Minas

(2) Aluna do curso de Graduação em Odontologia – PUC Minas

(3) Docente do PPGO PUC Minas

Tradicionalmente, tratamentos orto-cirúrgicos são conduzidos em três etapas principais: preparo ortodôntico anterior à cirurgia, visando reduzir o mal posicionamento dental e proporcionar uma intercuspidação satisfatória para a cirurgia; cirurgia ortognática a fim de corrigir as discrepâncias esqueléticas individuais do paciente, e, por último, finalização ortodôntica incluindo movimentações dentárias que auxiliam na obtenção das chaves de oclusão que caracterizam o tratamento ortodôntico ideal (FABER, 2010).

FIGURA 1: Antes e depois cirurgia ortognática.
FONTE: https://stock.adobe.com/br/search?k=cirurgia+ortogn%C3%A1tica&search_type=recentsearch

A CBA é uma técnica que envolve a antecipação da fase cirúrgica para antes da fase inicial clássica, corrigindo precocemente discrepâncias ósseas e trazendo os benefícios como, melhora facial, de forma mais imediata (NAGASAKA, 2009).

A técnica preconiza a criação de um ambiente mais favorável para a movimentação dentária, a partir da cirurgia, permitindo que o ortodontista possa alcançar resultados mais eficientes com suas movimentações. Ela é indicada em casos de discrepâncias esqueléticas maxilares, mandibulares ou maxilomandibulares leves, podendo estar associadas a problemas como mordida aberta, mordida cruzada e sobressalência excessiva (FABER, 2010). Sendo assim, a CBA tem como objetivo prevenir o agravamento gradual da aparência facial, em decorrência da descompensação ortodôntica pré-cirúrgica, melhorando significativamente a estética facial imediata e trazendo grande benefício para a autoestima e a qualidade de vida do paciente. Além disso, a CBA pode reduzir a duração de todo o processo., uma vez que a correção das deformidades esqueléticas facilita a movimentação dos dentes e reduz a necessidade de ajustes ortodônticos (URIBE et al., 2015).

Diante dos grandes desafios presentes no tratamento orto-cirúrgico tradicional, para o ortodontista, a CBA representa uma técnica importante na redução do tempo total de tratamento e na melhora imediata na estética facial. (SAKTHI et al., 2015).Além disso, essa técnica está associada à diminuição dos riscos de complicações associadas às deformidades esqueléticas e possui um impacto positivo na qualidade de vida do paciente sendo, portanto, uma alternativa a ser considerada no tratamento de pacientes que procuram uma solução eficaz e eficiente para seus problemas de deformidade esquelética e estética facial. (JAMILIAN; DARNAHAL; PERILLO, 2015)

REFERÊNCIAS  

DE SANTANA, Ana Vitória Martins et al.  A realização da cirurgia ortognática antes e após o tratamento ortodôntico: Revisão de literatura. Revista Ciências e Odontologia, v. 7, n. 1, p. 70-80, 2023. Disponível em: http://revistas.icesp.br/index.php/RCO/article/view/2868

FABER, Jorge. Benefício Antecipado: uma nova abordagem para o tratamento com cirurgia ortognática que elimina o preparo ortodôntico convencional. Dental Press Journal of Orthodontics, v. 15, no. 1, p. 144-157, Jan./Feb. 2010.

HERNANDEZ-ALFARO, Frederico et al. Surgery First in Orthognathic Surgery: What Have We Learned? A Comprehensive Workflow Based on 45 Consecutive Cases. American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons, v.72, p. 376-390, Aug. 2013. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.joms.2013.08.013

JAMILIAN, Abdolreza; DARNAHAL, Alireza; PERILLO, Letizia. Orthodontic Preparation for Orthognathic Surgery. A Textbook of Advanced Oral and Maxillofacial Surgery, v.2, p. 105-118, Apr.2015. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5772/58957

MCCOLLUM, A.G.H. et al. An alternative for the correction of the Class II low mandibular plane angle. Oral Surg Med Oral Pathol, v.67, no.3, p. 231-241, Mar. 1989.

NAGASAKA, Hiroshi et al. “Surgery First” Skeletal Class III Correction Using the Skeletal Anchorage System. Journal of clinical orthodontics, v. 43, no. 2, p. 97-105, Feb.2009.

SAKTHI, Vijayashri et al. Anticipated Benefit of “Surgery First: Approach- A Clinical Case Report. Biomed. & Pharmacol. J., v. 8, p. 641-645, Oct. 2015. Disponível em: Anticipated Benefit of “Surgery First” Approach- A Clinical Case Report | Biomedical and Pharmacology Journal (biomedpharmajournal.org)

TURNBULL, N.R.; BATTAGEL, J.M. The Effects of Orthognathic Surgery on Pharyngeal Airway Dimensios and Quality of Sleep. Jornal of Orthodontics, v. 27, no. 3, p. 235-247, Sept. 2000.

URIBE, Flavio; FARRELL, Brian. Surgery-First Approach in the Orthognathic Patient. Oral Maxillofacial Surg Clinics of North America, v. 32, p. 89-103, Feb. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.coms.2019.08.009

CEFALOMETRIA: o que é e para que serve?

Programa de Pós-graduação em Odontologia da PUC Minas (PPGO PUC Minas)

Júlia Franzot Castilho (1)

Víctor Lopes Soares (1)

Flávio Ricardo Manzi (2)

Diogo de Azevedo Miranda (2)

Izabella Lucas de Abreu Lima (2)

(1) Aluna do curso de Mestrado Profissional em Ortodontia – PPGO PUC Minas

(2) Docente do PPGO PUC Minas

O estudo da cefalometria começou no século XIX, por meio da antropometria, quando antropólogos utilizaram medidas de crânios humanos fossilizados como método comparativo entre eles (BAUMRIND, S; FRANTZ, R.C., 1971). Em 1931, logo após a descoberta do Raio X, Herbert Hofrath, na Alemanha e B. Holly Broadbent, nos Estados Unidos, desenvolveram, simultaneamente, o cefalostato, um dispositivo utilizado para padronizar o posicionamento do paciente no momento da obtenção da telerradiografia lateral, radiografia utilizada para obtenção do cefalograma (desenho anatômico com as principais estruturas esqueléticas, dentárias e tegumentares do crânio) (JACOBSON, A., 1995). A partir dessa padronização, medidas angulares e lineares passaram a ser utilizadas para a análise cefalométrica (PETER, J., et al., 2007).

Essa análise é essencialmente um sistema de medidas desenvolvido para descrever as relações entre bases ósseas, dentes e tecidos moles do complexo craniofacial (PETER, J., et al., 2007). Sendo assim, a cefalometria tornou-se uma ferramenta útil de diagnóstico, auxiliando análises de crescimento, determinação de planos de tratamento e a avaliação de resultados terapêuticos na Odontologia (JACOBSON, A., 1995).

Diversas análises cefalométricas foram sugeridas desde o início do uso do cefalostato, dentre elas, as cefalometrias propostas por Tweed, Steiner, Downs, Sassouni, McNamara (GANDINI, L.G., et al., 2005). A existência de análises cefalométricas distintas é justificada pelo fato de cada uma delas enfatizar características específicas, como por exemplo, as análises de McNamara e de Ricketts, que tem um foco maior em bases ósseas e Steiner que considera o posicionamento mais preciso dos tecidos tegumentares da face (GANDINI, L.G., et al., 2005). Sendo assim, até o presente momento, não existe análises cefalométricas que possam ser consideradas como completas e ideais, sendo elas complementares e aplicadas conforme necessidade e experiências do ortodontista (PETER, J., et al., 2007).

FIGURA 1 – telerradiografia em norma lateral

FIGURA 2 E 3 – Analise de Steiner e Sassouni (respectivamente) sobre a cefalometria acima.

Não obstante, a cefalometria continua sendo um importante exame complementar bastante utilizado na ortodontia, uma vez que fornece importantes informações a respeito das relações sagitais, transversais e verticais de cada paciente (FILHO, M.V., et al., 2002). Dessa forma, possibilita a realização de um planejamento ortodôntico completo e acompanhamento do crescimento e da evolução dos tratamentos (PETER, J., et al., 2007). Além de possibilitar a realização de sobreposições de traçados cefalométricos seriados de cada paciente (JACOBSON, A., 1995).

No entanto, análises cefalométricas não possibilitam que sejam dispensadas as demais análises (PETER, J., et al., 2007). Dessa forma, uma análise facial completa, com o auxílio de fotografias extra e intra-orais, sempre deve ser realizada. Além disso, é importante ressaltar que a face é mandatória na determinação do diagnóstico e plano de tratamento, portanto, a decisão final do tratamento sempre será clínica (FILHO, M.V., et al., 2002).

A análise cefalométrica representa um exame complementar de grande valia na ortodontia, fornecendo informações essenciais tanto para o planejamento ortodôntico, quanto para o acompanhamento do tratamento, auxiliando na aquisição de um diagnóstico completo e abrangente (JACOBSON, A., 1995).

REFERÊNCIA

  1. JACOBSON, A.; SADOWSKY, P. L. Superimposition of cephalometric radiographs. In: JACOBSON, A. Radiographic cephalometry: from basics to videoimaging. Chicago: Quintessence, 1995. cap. 10, p. 127-136.
  2. BAUMRIND, S; FRANTZ, R.C. The reliability of Head Film Measurements. Am J Orthod. v. 60, n. 5, pgs. 505-517, 1971.
  3. FILHO, M.V., et al. Análise Facial e sua Importância no Diagnóstico Ortodôntico. J Bras Ortodon Ortop Facial, v.7, n.39, p.218-225, 2002
  4. GANDINI, L.G., et al. Análise cefalométrica padrão Unesp Araraquara. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial. v. 10, n. 1. 2005
  5. PETER, J., et al. Cephalometry. Journal of Craniofacial Surgery, v. 18, n. 4, p. 811–817. 2007

DISBIOSE DA MICROBIOTA ORAL NA PATOGÊNESE DAS DOENÇAS PERIODONTAIS

Programa de Pós-graduação em Odontologia da PUC Minas (PPGO PUC Minas)

Thiago Schwab de Freitas (1)

Letícia Carla Rocha Pacheco (2)

Giovanna Araújo Faria (2)

Jôice Dias Corrêa (3)

(1) Aluno do Curso de Mestrado Profissional em Implantodontia – PPGO – PUC Minas

(2) Aluna de Graduação em Odontologia PUC Minas

(3) Docente do PPGO – PUCMinas

O último levantamento de saúde bucal no Brasil mostrou que metade da população adulta apresenta sangramento gengival e cálculo dentário.  Além disso 30% da população apresenta alguma forma de doença periodontal, sendo a mais comum a periodontite crônica, e que se não tratada devidamente pode levar inclusive à perda de dentes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).

A cavidade oral é o segundo maior nicho bacteriano do corpo humano, perdendo apenas para o trato gastrointestinal. Atualmente cerca de 700 diferentes espécies bacterianas já foram identificadas e em condições de saúde estima-se que entre 100 e 200 espécies estejam presentes na cavidade oral (WADE, 2013).

 Apesar dos mecanismos que levam ao início das doenças periodontais ainda não serem completamente conhecidos, estudos de patogênese da periodontite mostram que a instalação e progressão da destruição dos tecidos periodontais dependem de um desequilíbrio na resposta inflamatória do indivíduo aos microrganismos presentes no biofilme que coloniza os tecidos periodontais (DARVEAU, 2010).

Os tecidos periodontais mantêm proximidade com um biofilme polimicrobiano aderido às superfícies dentais e a microbiota se beneficia deste “habitat seguro” e nutritivo e em contrapartida contribui para a digestão de alimentos, regulação do metabolismo, estimulação do sistema imune e previne a colonização por microrganismos exógenos, geralmente patogênicos(MARSH, 2003).

O equilíbrio entre biofilme e hospedeiro pode ser perturbado tanto por alterações no ambiente local, como doenças sistêmicas ou uso de medicações, quanto por fatores ambientais, como o hábito de fumar (MARSH, 2003). Esse desequilíbrio pode ser o gatilho para a doença periodontal, que diferente de muitas doenças infecciosas, ocorre o crescimento de bactérias já presentes no estado de saúde periodontal, mudando apenas sua proporção (disbiose) (ABUSLEME et al., 2013; SOCRANSKY et al., 1998).

A primeira mudança perceptível nesse equilíbrio é quantitativa, com o aumento da biomassa do biofilme. Mudanças qualitativas também ocorrem, pois com as alterações graduais no ambiente subgengival há uma mudança na competitividade e virulência de espécies putativas, que antes se apresentavam em menor proporção na microbiota, e passam a se tornar dominantes (ABUSLEME et al., 2013; SOCRANSKY et al., 1998). A composição bacteriana subgengival entre sítios saudáveis e com periodontite foi classificada em grupos denominados “espécies associadas à saúde”, “espécies do core” e “espécies associadas à periodontite”. As espécies do core são aquelas que aparecem na maioria dos indivíduos e não mudam de proporção entre os estados de saúde ou doença periodontal, se adaptam em diferentes condições e mantem relações sinérgicas com diferentes espécies microbianas. Um exemplo importante de espécie do core é o Fusobacterium nucleatum, que é capaz de se associar a diversas outras espécies e ajudar na colonização do biofilme (DIAZ; HOARE; HONG, 2016).

A teoria mais atual do desenvolvimento da periodontite é a “hipótese ecológica da placa”, que postula que alterações nas condições ambientais locais podem alterar a competitividade no sistema do biofilme bacteriano, induzindo um aumento de organismos com maior capacidade de se adaptar ao novo ambiente (Figura 1)

FIGURA 1 – Proporções de espécies bacterianas associadas à saúde periodontal, espécies do core, associadas à periodontite e espécies variáveis na transição do estado de saúde periodontal para a doença periodontal. FONTE: Adaptado de (DIAZ; HOARE; HONG, 2016)

Várias mudanças significativas acontecem no habitat subgengival durante a doença, por exemplo, na formação da bolsa periodontal, o epitélio juncional migra apicalmente resultando no aprofundamento do sulco gengival(LOURENÇO et al., 2014; SHI et al., 2015). O fluxo do fluido crevicular aumenta, introduzindo no espaço crevicular não apenas componentes do sistema imune mas também moléculas como transferrina e hemoglobina, que podem ser catabolizadas e usadas como fonte de nutrientes por bactérias Gram-negativas anaeróbias e proteolíticas (MARSH, 2003).

. Assim, estabelece-se um ambiente anaeróbio, com maior pH e rico em produtos da degradação tecidual, selecionando bactérias classicamente associadas com o desenvolvimento da periodontite, como Porphyromonas gingivalis e Tannerella forsythia e diminui a proporção de bactérias associadas à saúde periodontal, como Streptococcus. Estas modificações não são restritas apenas aos sítios com doença periodontal, mas afeta toda a cavidade bucal do indivíduo com periodontite (HAJISHENGALLIS, G., 2014; HAJISHENGALLIS, GEORGE; LAMONT, 2016) (Figura 2).

FIGURA 2 – Mudanças que ocorrem no sulco gengival com a formação da bolsa periodontal. FONTE: imagem do autor.

Além disso, essas mudanças ocorrem não apenas na composição bacteriana do biofilme, mas também no seu metabolismo. Estudos mostraram um aumento na expressão de genes associados a maior virulência das bactérias orais, não só nas bactérias consideradas patogênicas, mas também naquelas associadas à saúde. Nesse sentido é importante analisar as interações que ocorrem entre os microrganismos presentes no biofilme. Foi demonstrado que no biofilme oral as espécies têm uma organização espacial e funcional, e mantêm uma rede de comunicação e divisão do trabalho metabólico, capaz de modular a resposta do hospedeiro frente ao biofilme (GRIFFEN, et al. 2012).

Em síntese, qualquer alteração no ambiente pode gerar impacto na microbiota, a qual por sua vez é capaz de induzir modificações na resposta do hospedeiro, gerando uma alça de amplificação do processo de doença periodontal.

REFERENCIAS

ABUSLEME, Loreto et al. The subgingival microbiome in health and periodontitis and its relationship with community biomass and inflammation. The ISME journal, v. 7, n. 5, p. 1016–25, maio 2013.

DARVEAU, Richard P. Periodontitis: a polymicrobial disruption of host homeostasis. Nature Reviews Microbiology, v. 8, n. 7, p. 481–490, 2010.

DIAZ, Patricia I; HOARE, Anilei; HONG, Bo-young. Subgingival Microbiome Shifts and Community Dynamics in Periodontal Diseases. Journal of California Dental Association, v. 44, n. 7, p. 397–472, 2016.

HAJISHENGALLIS, G. The inflammophilic character of the periodontitis-associated microbiota. Molecular Oral Microbiology, v. 29, n. 6, p. 248–257, 2014.

HAJISHENGALLIS, George; LAMONT, Richard J. Dancing with the Stars: How Choreographed Bacterial Interactions Dictate Nososymbiocity and Give Rise to Keystone Pathogens, Accessory Pathogens, and Pathobionts. Trends in Microbiology, v. 24, n. 6, p. 477–489, 2016.

LOURENÇO, Talita Gomes Baêta et al. Microbial signature profiles of periodontally healthy and diseased patients. Journal of Clinical Periodontology, v. 41, n. 11, p. 1027–1036, 2014.

MARSH, P. D. Are dental diseases examples of ecological catastrophes? Microbiology, v. 149, n. 2, p. 279–294, 2003.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. SB Brasil 2010: Pesquisa Nacional de Saúde Bucal: resultados principais. . [S.l: s.n.], 2012.

SHI, Baochen et al. Dynamic Changes in the Subgingival Microbiome and Their Potential for Diagnosis and Prognosis of Periodontitis. mBio, v. 6, n. 1, p. e01926-14, 2015.

SOCRANSKY, S S et al. Microbial complexes in subgingival plaque. Journal of Clinical Periodontology, v. 25, p. 134–144, 1998.

WADE, William G. Characterisation of the human oral microbiome. Journal of Oral Biosciences, v. 55, n. 3, p. 143–148, 2013.