Programa de pós-graduação em Odontologia da PUC Minas (PPGO PUC Minas)
Víctor Lopes Soares (1)
Igor Camargos Duarte (2)
Izabella Lucas de Abreu Lima (3)
(1) Aluno do curso de Mestrado Profissional em Ortodontia – PPGO PUC Minas
(2) Aluna do curso de Graduação em Odontologia – PUC Minas
(3) Docente do PPGO PUC Minas
O IPR (Interproximal Removal), é uma técnica amplamente utilizada na ortodontia, podendo ser indicada em tratamentos tanto com aparelhos fixos, quanto com alinhadores dentários. Esse procedimento consiste na redução das superfícies proximais dos dentes, por meio de brocas ou lixas, com o objetivo de formar pequenos diastemas, criando espaço para movimentação dentária. Esse recurso é muito utilizado para corrigir apinhamentos leves, principalmente na região de incisivos inferiores (CHUDASAMA, 2007).
Para a realização dessa técnica deve-se analisar a severidade do apinhamento com base na discrepância negativa de espaço no arco e diagnóstico clínico intraoral, a fim de determinar a quantidade necessária de desgaste para a correção. A utilização de radiografias para a avaliação da espessura de esmalte presente é também um fator preponderante para determinar a quantidade de esmalte que poderá ser removido sem causar danos ao paciente (LIVAS, 2013).
Antes de utilizar a técnica recomenda-se a finalização das fases de alinhamento e nivelamento dentário com o objetivo de corrigir as rotações e mal posicionamentos a fim de estabelecer pontos de contato adequados. Para se ter uma melhor visualização do campo durante o procedimento e um acesso mecânico adequado, são indicados o uso de molas helicoidais, separadores ou cunhas de madeira. A proteção dos tecidos interdentais durante o procedimento pode ser feita com o uso de um fio chamado indicator wire que por conta da sua higidez protege o tecido mole de tira (colocando entre a broca e o tecido evita-se possíveis lacerações). Essa proteção é muito importante para os pacientes mais jovens, pois as regiões interdentais são totalmente preenchidas pelos tecidos (CHUDASAMA, 2007).
A redução do esmalte mésio-distal pode ser realizada por métodos manuais ou mecânicos. Não se recomenda a utilização de tiras abrasivas manuais antes de se realizar o alinhamento dos dentes por ser um processo demorado, pouco aplicável aos dentes posteriores e por produzir sulcos residuais irreversíveis nas superfícies tratadas. Atualmente, as tiras manuais são empregadas apenas em casos menores de remoção de esmalte (0,2 e 0,3 mm) e como procedimento inicial ou final de acabamento para manter a anatomia dentária (LIVAS, 2013). Outras alternativas para a redução são brocas com ponta diamantada, discos diamantados ou discos de segmento adaptados a um contra ângulo com movimento de oscilação. O ortodontista deve ser conservador ao iniciar os procedimentos de remoção, sendo a quantidade de esmalte máxima que poderá ser removida é de aproximadamente 1mm (0,5 mm por superfície proximal), variando de acordo com a anatomia e espessura individual do dente e paciente (CHUDASAMA, 2007).
Com o objetivo de realizar o polimento das regiões interproximais, é recomendável utilizar uma ponta diamantada triangular em forma de cone, juntamente com discos de areia fina e tiras de lixa diamantada. É importante arredondar as regiões interproximais para garantir uma morfologia adequada e evitar pontos de contato pontiagudos. Além disso, as paredes proximais devem ser contornadas para apresentar uma textura adequada e garantir que os dentes se movam de forma suave e natural durante o tratamento. O polimento deve ser realizado com cuidado para evitar o excesso de remoção de esmalte e danificar a saúde dental (LIVAS, 2013).
Para obter um melhor controle e evitar desgaste em excesso, é recomendável que as reduções interproximais sejam realizadas de forma sequencial, trabalhando dos dentes posteriores para os anteriores, nos segmentos vestibulares e movendo os dentes distalmente. Em vez de realizar todas as reduções em uma única consulta, o mais recomendável é consolidar o espaço e repetir a sequência de reduções nas visitas subsequentes até que haja espaço suficiente para resolver o problema. Dessa forma, é possível controlar a quantidade de espaço criado a cada visita e minimizar o risco de remover excesso de esmalte interdental (CHUDASAMA, 2007).
O IPR é recomendado em várias situações em que é necessário criar espaço entre os dentes. As principais indicações incluem a correção de apinhamento dental, discrepâncias de tamanho que possam afetar a aparência estética do sorriso, a prevenção de recidivas após tratamento ortodôntico, eliminação do triangulo negro (black space[UdMO1] ) e redução do perímetro do arco. Com o IPR, é possível alcançar resultados estéticos e funcionais satisfatórios, contribuindo para a saúde bucal e o bem-estar dos pacientes (LIVAS, 2013).
Existem algumas situações em que o IPR é contraindicado. Nos casos de pacientes que apresentem hipersensibilidade dentária ou dentes muito pequenos sem suas superfícies dentárias integras e espessas o suficiente, o desgaste não pode ser realizado, com o risco prejudicar a harmonia entre os dentes, sua estética e estrutura. Além disso, o IPR pode afetar a função dos dentes, como a mastigação e a fala. Também é importante destacar que a técnica de redução interproximal pode não ser indicada para pacientes que apresentam um alto grau de apinhamento dentário, uma vez que o desgaste necessário para corrigir o problema seria excessivo e poderia comprometer a estrutura dos dentes. É importante ressaltar, no entanto, que o IPR pode ser utilizada como uma ferramenta ou aliado para auxiliar na solução desses casos mais complexos, porém, é preciso que seja realizada com critério e planejamento adequados para minimizar eventuais riscos de danos aos dentes e garantir o sucesso do tratamento (LIVAS, 2013).
De acordo com a literatura disponível, a técnica de redução interproximal do esmalte é considerada uma modalidade terapêutica eficaz na conduta ortodontôntica. Quando realizada adequadamente e em circunstâncias específicas, essa técnica pode ajudar a alcançar os objetivos do tratamento sem comprometer a integridade dos tecidos dentários e periodontais. Além disso, ortodontista deve avaliar cada caso individualmente e considerar as necessidades específicas do paciente antes de optar pela técnica de redução interproximal do esmalte. Dessa forma, é possível utilizar o IPR como uma ferramenta valiosa no tratamento ortodôntico, desde que seja realizada com cautela e dentro de um contexto clínico bem estabelecido.
REFERÊNCIAS
LIVAS, Christos; JONGSMA, Albert Cornelis; REN, Yijin. Enamel reduction techniques in orthodontics: a literature review. The open dentistry journal, v. 7, p. 146, 2013.
CHUDASAMA, Dipak; SHERIDAN, John J. Guidelines for contemporary air-rotor stripping. Journal of Clinical Orthodontics, v. 41, n. 6, p. 315, 2007.
ZHONG, Mei et al. Clinical evaluation of a new technique for interdental enamel reduction. Journal of Orofacial Orthopedics/Fortschritte der Kieferorthopädie, v. 61, p. 432-439, 2000.