Câncer de boca: quais são as formas de apresentação clínica dessa doença?


Programa de Pós-graduação em Odontologia da PUC Minas (PPGO PUC Minas) 

Martinho Campolina Rebello Horta (1) Paulo Eduardo Alencar de Souza (1) Eliene Magda de Assis (2) Joaquim Barbosa Matias Neto (3) Hayder Egg Gomes (4)

(1) Docente do PPGO PUC Minas e Patologista do Laboratório de Patologia Bucal da PUC Minas (2) Aluna do Curso de Doutorado – PPGO PUC Minas (3) Aluna do Curso de Mestrado Acadêmico – PPGO PUC Minas (4) Aluno do Curso de Mestrado Profissional – PPGO PUC Minas


APOIO:
  • FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (CDS-APQ-01806/14; CDS-PPM-00653-16; CDS-APQ-01055/18)
  • CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (437861/2018-0)
  • CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Código de Financiamento 001)

O Instituto Nacional do Câncer estimou, para cada ano do biênio 2018-2019, a ocorrência de 14.700 novos casos de neoplasias malignas de cavidade oral no Brasil, sendo 11.200 em homens e 3.500 em mulheres. O risco estimado é de 10,86 casos novos para cada 100 mil homens e de 3,28 casos novos para cada 100 mil mulheres em nosso país. Esses valores colocam o câncer de cavidade oral como o sexto mais comum em homens e o décimo terceiro mais comum em mulheres na população brasileira, considerando nesta classificação o câncer de pele não melanoma, a neoplasia maligna mais prevalente em nossa população (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2018).

A neoplasia maligna mais comum da boca é o carcinoma de células escamosas, também denominado carcinoma epidermoide ou carcinoma espinocelular. Esse tumor maligno, que se origina dos queratinócitos do epitélio de revestimento da mucosa oral, representa mais de 90% das neoplasias malignas da boca. Portanto, na maioria das vezes a denominação “câncer bucal”, “câncer de boca”, ou “câncer de cavidade oral” refere-se ao carcinoma de células escamosas, a despeito do fato de que outras neoplasias malignas podem acometer essa região.

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do carcinoma de células escamosas de boca são tabaco e álcool. A radiação solar é um fator extremamente relevante para os tumores da semimucosa labial (vermelhão do lábio). A presença do vírus do papiloma humano – HPV (principalmente subtipos 16 e 18) vem sendo estudada como fator de risco para o carcinoma de células escamosas de boca, embora o papel desse vírus como agente causador do câncer de boca ainda não esteja tão bem estabelecido como no câncer de orofaringe. Os locais mais acometidos pelo tumor são lábio, língua, assoalho de boca e gengiva.

É extremamente relevante que os profissionais de saúde conheçam as formas de apresentação clínica do câncer de boca, ou seja, como essa doença se manifesta clinicamente. Um conjunto de exemplos interessantes e didáticos foi proposto por Neville et al. (2016), no livro texto de Patologia Oral mais utilizado no mundo atualmente.  Esses autores citam os seguintes exemplos de apresentação clínica do carcinoma de células escamosas de boca:

  • Leucoplásica: a neoplasia se apresenta como uma mancha ou placa branca. Lembre-se… Nem toda mancha ou placa branca é um carcinoma… Entre os diagnósticos diferenciais podemos citar leucoplasia, líquen plano (em placa) e ceratose friccional. Veja abaixo um exemplo de carcinoma de células escamosas de boca com apresentação clínica leucoplásica, localizado em borda de língua:
Leucoplásica 2
  • Eritroplásica: a neoplasia se apresenta como uma mancha ou placa vermelha. Mas… Nem toda mancha ou placa vermelha é um carcinoma… Entre os diagnósticos diferenciais podemos citar eritroplasia e líquen plano (erosivo). Veja abaixo um exemplo de carcinoma de células escamosas de boca com apresentação clínica eritroplásica, localizado em palato:
Eritroplásica 2
  • Leucoeritroplásica: a neoplasia se apresenta como uma mancha ou placa vermelha e branca. Lembre-se… Nem toda mancha ou placa vermelha e branca é um carcinoma… Entre os diagnósticos diferenciais podemos citar leucoeritroplasia e líquen plano. Veja abaixo um exemplo de carcinoma de células escamosas de boca com apresentação clínica leucoeritroplásica, localizado em borda de língua, ventre de língua e assoalho bucal :
Leucoeritroplásica 2
  • Endofítica: a neoplasia se apresenta como uma úlcera. Essa apresentação clínica ilustra uma das formas mais conhecidas desse tumor: úlcera, de bordos endurecidos, que não cicatriza… Mas lembre-se que nem toda úlcera é um carcinoma… Entre os diagnósticos diferenciais podemos citar paracoccidioidomicose e úlcera traumática. Veja abaixo um exemplo de carcinoma de células escamosas de boca com apresentação clínica endofítica, localizado em rebordo alveolar inferior e assoalho de boca:
Endofítica 2
  • Exofítica: a neoplasia se apresenta como uma massa tumoral. Lembre-se… Nem toda lesão exofítica é um carcinoma… Entre os diagnósticos diferenciais podemos citar processos proliferativos não neoplásicos (como o granuloma piogênico) e neoplasias malignas (como o linfoma). Veja abaixo um exemplo de carcinoma de células escamosas de boca com apresentação clínica exofítica, localizado em mucosa jugal e estendendo-se para mucosa labial:
Exofítica 2

Vale também ressaltar que, na maioria dos casos, o paciente não apresenta sintomatologia dolorosa, principalmente nas fases iniciais da doença. Isso é um dos fatores que contribui para que o paciente muitas vezes demore a procurar a ajuda de um profissional.

Finalmente, um ponto que merece destaque: após criterioso exame clínico e elaboração de hipóteses de diagnóstico, a biópsia incisional é o procedimento indicado para o diagnóstico, que deve ser confirmado pelo exame anatomopatológico. A biópsia pode ser realizada pelo cirurgião-dentista clínico geral, que apresenta as habilidades e competências necessárias a este procedimento. Entretanto, caso o profissional não se sinta seguro para realizar o procedimento, pode encaminhar o paciente a um estomatologista ou cirurgião bucomaxilofacial.

IMAGENS:

Imagens do arquivo do Departamento de Odontologia da PUC Minas.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, O.P. Patologia oral. São Paulo: Artes Médicas, 2016.168 p.

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. Estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil/Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Rio de Janeiro: Inca, 2018. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/estimativa/2018/

NEVILLE, B.W; DAMM, D.D.; ALLEN, C.M.; CHI, A.C. Patologia Oral & Maxilofacial. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. 928p.

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